Há dias em que saio da escola onde leciono como se estivesse saindo do céu. Recentemente, eu e outros professores encaramos uma jornada no turno contrário quando tínhamos o auditório cheio de alunos em uma verdadeira demonstração de respeito e educação. Infelizmente, em outros dias, parece que ao sair da escola é que vou entrar no céu. E é sobre esses poucos momentos que quero discorrer nesse momento.
Um desses momentos aconteceu recentemente em uma turma do último horário. Reconheço que a escola não é o lugar mais bonito do mundo embora tenhamos área verde para circulação. Reconheço que o ambiente físico não é lá uma Brastemp embora tenhamos uma boa sala de aula, cadeiras, quadro, TV, equipamentos de multimída e iluminação. Reconheço também que a estrutura pedagógica não é a ideal, embora tenhamos uma direção que sabe decidir, resolver problemas; em determinados momentos, há a carência de professores embora no geral a grade curricular esteja completa. E olha que boa parte deles possui Pós-Graduação ou Mestrado. Temos inclusive um orientador educacional.
Só não consigo reconhecer o fato de jovens que tem acesso ao estudo aproveitarem seu momento em sala para distrair o colega, conversar fiado, preocupar-se com o celular. Enfim, sabotar a aula, destruir a saúde de quem está à frente e desrespeitar o direito do colega ao estudo. Mas quero entender.
Quem sabe, a aula está muito simples. É como se esse aluno dissesse que já sabe. Mas como fica seu colega que ainda não sabe, ainda não teve acesso a aquela informação?
Quem sabe, esse aluno não está entendendo nada. Mas, no lugar de procurar crescer por dentro e correr atrás do prejuízo, é mais fácil aliviar a dor do não entendimento ao fazer com que outros alunos que querem entender, não entendam.
Quem sabe, o professor está ensinando errado. Se o aluno percebeu que alguma informação passada pelo professor não procede, esse aluno tem o direito e o dever de, de forma educada e discreta, dar um toque no seu professor sobre o fato. Só que é mais fácil destruir do que ajudar ao seu professor a dar uma aula melhor.
Quem sabe, quem sabe, quem sabe... Poderia ficar enumerando outras possibilidades, mas vou parar aqui.
Retornando ao momento citado no segundo parágrafo, saí da sala de aula ao final do expediente extremamente triste, desmotivado, chateado com o que acontecera. Mas antes que chegasse ao estacionamento, a sensação de estar saindo do céu retornou ao meu coração ao cumprimentar e ser cumprimentado por uma ex-aluna e ter ouvido da parte dela palavras espontâneas de gratidão. Ela, mesmo sem poder enxergar meu rosto (ela é totalmente cega), enxergou meu coração.
Sem saber, ela deu-me o carinho que não recebi na turma do último horário daquele dia.