quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Como é bom ser aluno do CEMTM nessas horas!

     No início do ano, havia escrito sobre o fato de estarmos em uma fria em sermos alunos do CEMTN.
     Hoje, quero mudar o foco. E discorrer sobre as vantagens de sermos alunos dessa maravilhosa escola.
     E há alguma vantagem em ser aluno do CEMTN? É ou não é o CEMTN uma escola pública, sujeita a todo o tipo de violência verbal dita pela mídia? Está ou não está o CEMTN sujeito a cortes na sua verba orçamentária por conta de interesses contrários à educação por parte do governo? Está ou não está o CEMTN sujeito a greves das mais variadas ordens: professores, vigilância, limpeza, lanche, etc?
     Entretanto, é bom ser aluno do CEMTN nessas horas. Porém não nas horas que citei acima, porque o que detalhei no parágrafo anterior acontece ou pode acontecer em qualquer escola pública do mundo. Mas em outras horas.
     Nas horas que compuseram a tarde de hoje, 08 de dezembro de 2011, fomos conclamados a tomar a pílula vermelha, a única capaz de fazer com que vejamos a verdade. E para vermos a verdade, precisamos ler todo e qualquer tipo de texto (imagem é texto, roupa é texto, unha suja é texto, celular do ano é texto, texto é texto, tudo e texto) de forma madura e reflexiva para que o nosso foco esteja cada vez mais claro a ponto de não perdermos a direção dele até porque nós precisamos ser motoristas da nossa história, e não sermos, apenas, passageiros dela. Daí também a necessidade de escolhermos bem nossas amizades a ponto de podermos separar a amizade dos compromissos e responsabilidades atrelados à essa amizade. Não é porque sou seu amigo é que vou facilitar sua vida, quanto a notas, não é mesmo. Ser justo, honesto e respeitador é diferente de passar a mão. E quem educa, chama a atenção e pune quando necessário, ama verdadeiramente.
     Quanto ao timaço de vôlei que os professores formaram, que lição maravilhosa! Quero saber quem foi o infeliz, o degraçado, o insano que saiu afirmando por aí que o único período da vida que vale a pena ser vivida é a mocidade. No Arcadismo tem algo sobre isso. Você se lembra do Carpe Diem, viver o hoje como se não houvesse o amanhã? E olha que essa ideia já vinha lá dos tempos da Grécia e Roma Antigas (a poetisa grega Safo de Lesbos e os poetas romanos Horácio e Catulo já compunham poemas com essa temática), já que o Arcadismo (o poeta árcade português Bocage e  os árcades brasileiros Tomás Antônio Gonzaga e  Cláudio Manoel da Costa - todos do Arcadismo de língua portuguesa europeia e brasileira) tinha sua estética baseada na cultura greco-romana. Existe muita vida após a juventude. Eu que o diga. Até tive de fazer cirurgia no mindinho da mão esquerda por conta do vôlei! Ou é só jovem que quebra braço, perna, dedo, se machuca em esportes?
      E em relação ao que reclamamos? Reclamamos, sim, de barriga cheia! Quanta bagaceira por aí, e nós, todos aqui, alimentados, de banho tomado, participando de mais um Aulão, sendo respeitado e respeitando o semelhante, não é mesmo? Por isso, o sentimento de gratidão deve ser o máximo possível, a ponto de pararmos de pedir e passarmos a doar.  Quanto mais reconheço a bênção que tenho, menos vou sofrer por aquilo que não tenho.
     Se aplicarmos todas as lições acima em nossas vidas, com certeza, cada vez que ouvirmos alguém dizer que ficou com o troco que recebeu a mais ou que mentiu para o professor que estava com dor de barriga para escapar do zero na atividade que faltou ou, ainda, que se deu bem às custas do prejuízo de outra pessoa, no lugar de aplaudirmos, iremos vaiar. E, assim, estaremos a construir um Brasil mais justo, mais honesto, mais honrado.
     Isso foram apenas as duas horas da tarde de hoje no auditório. Foram cento e vinte minutos de pura cidadania e aconselhamento.
     Imagine as outras tardes desse ano. Foram os microfóruns do quarto bimestre combinados com a gincana, o trabalho com os sonetos, a linha do tempo, o sarau renascentista. Minha amada turma 2ºL apresentou seu sarau sobre o Romantismo, realizou seus microfóruns sobre os contos de Machado de Assis e sobre as novas regras do Novo Acordo Ortográfico. Sem falar na estupenda vitória no futsal. Se fosse detalhar o que acabo de citar e também detalhar que não citei, precisaria de um blog do tamanho do céu e de toda a água do mar para usar como tinta para imprimir tudo que estivesse lá escrito.
     Como é bom ser aluno do CEMTM nessas horas!

Fernando Fernandes

O que você já pediu a Papai Noel?

     No último final de semana, estava refletindo sobre minha infância em relação a Papai Noel. E o que eu ouvi do professor Marcos Paulo (ou simplesmente Marcos, o Tímido) no nosso Aulão da Despedida foi a centelha que faltava para escrever. Vamos à reflexão.
     Sinceramente, eu não me lembro se meu pai me incentivava a acreditar no bom velhinho. Mas me recordo de curiar a árvore de natal ao anoitecer do dia 24 e não ter presentes. Na manhã seguinte, lá estavam três presentes: um para mim, outro para minha irmã e outro para minha mãe.
     E vocês sabem como são os pensamentos. Parecem como puxar a pelezinha do cantinho da unha. A gente futuca, futuca e acaba sangrando. E assim aconteceu.
     Pensando especificamente no meu pai, que tive até meus 43 anos de idade (hoje tenho 51), cheguei à conclusão de que pedi poucas coisas para ele, embora ele me tenha dado tudo. Um desses pedidos foi um carrinho, do tipo cegonha (carreta que transporta automóveis de passeio) em um Natal. Ele me deu o dinheiro, fui até a loja e comprei-o. Nesse caso o Santa Claus não colocou nada sob a árvore.
     Quando trabalhei como balconista em uma padaria (nessa época, tinha 19 anos), precisava fazer um cursinho preparatório para uma determinada prova. Como havia revezamento de horário entre os empregados e nenhum deles quis facilitar minha vida, meu pai me cobria na semana em que eu perderia as aulas, tudo isso após ele cumprir sua jornada de trabalho. E isso eu não pedi ao meu pai. Ele sentiu minhas dores e, para aliviar as minhas, agravou as dele. Contudo, não foram em vão.
     Os anos se passaram, até que Deus me deu a honra de passar  com ele suas últimas doze horas de vida, após minha mãe, minha irmã, meu cunhado, alguns primos e conhecidos, lá no Rio, batalharem com ele bravamente contra um traiçoeiro, infame e sagaz inimígo: o câncer.
      É nesse ponto que entram as palavras sábias do professor Marcos. Vivemos em uma sociedade extremamante egocêntrica, ensimesmada, egoísta, subjetiva. É como fôssemos nefelibatas, isto é, estarmos vivendo nas nuvens, em um eterno mundo de fantasia em que tudo funciona e a justiça impera ou como se fôssemos obinubilados, isto é, cobertos por uma nuvem que nos impede de ver a realidade. Nessa ótica, o primeiro slide do Aulão trouxe a palavra BLINDNESS (cegueira). Em alguns momentos, um dos palestrantes usou o termo BLINDEX (tipo de vidro escurecido) e o termo BLINDADO ou BLINDAGEM,  (aquilo que proteje e não permite que nada penetre), esse eu não tenho certeza. Tudo isso, acrescentado da deletéria (destrutiva) ideia  do Papai Noel, em que pedimos, pedimos, pedimos e, claro, pedimos.
     Mas... o que o Marcos, o Tímido, disse de tão importante para você nesse último Aulão que fez com que você escrevesse?
      Respondo. Lá pelas tantas, ele disse que deveríamos parar de pedir e mudar de atitude, no caso, que deveríamos nos doar a alguém ou a alguma coisa ou a alguma causa.
      E a pelezinha que eu estava futucando há 96 horas atrás,  sangrou. Por mais que eu me considere um bom professor e me doe aos alunos, por mais que eu me considere um bom filho, um bom marido, um bom pai e um bom avô (é exatamente o que você leu), eu ainda devo. E muito.
     Quanto ao meu pai, não posso mais me doar a ele, pois ele não está mais aqui. Mas posso colocar todo o seu exemplo de vida, de dedicação à esposa e aos filhos como um padrão a ser seguido. E cada vez que consigo imitá-lo, é como se eu me doasse um pouco a ele, mesmo sem ele saber. Ainda tenho como me doar a aqueles que estão ao meu redor, inclusive você.
     Mas... e o Papai Noel? Está perdido nessa reflexão?
     Não. Porque se existiu algum Papai Noel, este foi, certamente, meu pai. 

Fernando Fernandes