sexta-feira, 29 de março de 2013

Paz


           http://1.bp.blogspot.com/-HRCM9-fFxGM/T3D2ZEhITVI/AAAAAAAAkhU/0p54VrT6DAA/s1600/paz-no-futebol.JPG               


Pensava ser fantasia
Hoje com imensa alegria
Braços fortes contemplei
Que representam a grei

Duas pessoas
Uma de Vasco
Uma de Flamengo

Um carro pifado
Seu dono irritado

A comunhão

Um novo sorriso
Seguiu seu destino

Dois novos sorrisos
Refletem a paz

Um quarto sorriso
Com um novo desejo

Repartir

quinta-feira, 28 de março de 2013

Direitos


      Num dos telejornais noturnos da semana, um comentário sobre o aborto e a união homoafetiva chamou-me a atenção após notícia em que cerca de meio milhão de pessoas, nas ruas, reivindicou um referendo popular para decidir sobre a união homoafetiva e a não aprovação desse direito pela via parlamentar francesa; também que, no Brasil, 74% da população aprova a eleição do papa Francisco (contrário à união entre pessoas do mesmo sexo), porém 57% rejeita a união civil entre homossexuais, 33% dos gays escondem sua orientação para pessoas próximas por medo de algum tipo de represália e 54% rejeitam o aborto. Tudo para mostrar o descompasso entre a aprovação da eleição do novo papa, o que ele defende e o apoio da população brasileira ao que ele pensa.
         Destaco, em relação ao todo que foi avaliado, as seguintes afirmações do comentarista: é direito da mulher saber, decidir se ela quer ter o filho ou não; fazer do seu corpo aquilo que for melhor, o mais conveniente pra ela, desde que ela esteja, obviamente, no pleno uso das suas faculdades mentais e tenham maturidade e idade suficientes para decidir sobre seu próprio destino.
         Se é direito da mulher decidir sobre ter o filho ou não, como fica o direito da criança que está no ventre? Todos nós sabemos que uma vida só pode gerar outra vida. Um ser vivo só gera outro ser vivo da mesma espécie. A diferença entre uma criança e um adulto é o diferente grau no desenvolvimento dos seus diversos sistemas. Por exemplo, com quatro anos, uma criança não é biologicamente capaz de se reproduzir. Anos mais tarde, sim. A diferença entre um feto de uma semana, outro de dez, quinze, vinte semanas e de um recém-nascido também é o diferente grau de desenvolvimento. Portanto, há um ser lá dentro que não teve a oportunidade de decidir. Tirar a vida de outrem, independente de leis, é crime.
        Se é direito da mulher fazer do seu corpo o que for melhor, o mais conveniente desde que esteja madura e mentalmente capaz, subtende-se que o mais conveniente e melhor em relação ao seu destino são as ações que geram prazer ou que minimizam as dores, isto é, satisfazem ao ego. Dessa forma, mulheres que foram agredidas proporcionaram aos seus companheiros agressores o direito de decidir sobre o que traria paz, alívio a eles. Assim como a mulher agredida pelo parceiro foi desrespeitada em seu direito à decisão sobre seu futuro, o ser que está sendo gerado também está sendo agredido. Eu, mulher, tenho meu direito a não apanhar negado e, ao mesmo tempo, nego o direito de alguém a viver. Logo, essa história de alguém poder decidir sobre seu próprio destino é lícita, desde que não interfira no direito do outro em decidir também sobre o seu amanhã.
          Ainda bem que eu não fui abortado. Caso contrário, tão teria a oportunidade de exercer meu direto como cidadão em discordar, da forma mais educada e polida possível, sobre a visão de mundo do respeitado comentarista.
           Nem ele.        

Fernando Fernandes
            

Prazeres


       Há uma semana, dirigi-me ao comércio local para cumprir duas missões igualmente importantes. Por questões de comodidade, deixei meu carro em um local em que não me aborreceria em manobrar ou mendigar vaga. Sabia que daria duas caminhadas.
       Na primeira etapa, tudo transcorreu normalmente. Guardei a primeira encomenda no carro e retornei ao comércio para a próxima empreitada.
           De repente, não mais do que de repente, tudo escuro.
      Uma chuvarada de dez minutos transformou a rua em rio. E lá estava eu querendo atravessá-la. Mas com fazê-lo sem nadar?
          Fiquei parado obsevando os pedaços de pau, latinhas de refrigerante e sacos plásticos que tentavam se salvar inutilmente da correnteza. Também as marolas que os automóveis criavam.
           Foi gostoso.
         Lembrei-me de outra chuvarada há uns vinte anos. Daquela vez, eu encarara tudo a ponto de chegar à sala de aula da faculdade igualzinho a um pinto molhado.  E de uma outra, quando resolvera ir de Taguatinga a Samambaia pedalando. Retornara mais encharcado do que... E uma na minha adolescência, ao usar minha bicicleta para ir ao hospital visitar minha mãe que sofrera uma intervenção cirúrgica. Que mico! De um ano para cá, uso bicicleta ou meus pés para ir ao trabalho. Ainda não aconteceu.
             A chuva cessou. O mover das águas, não.
            E continuava a viajar no tempo quando fui despertado por um senhor que destrancava seu carro para seguir seu destino.
            - Você quer atravessar a rua?
            - Estou esperando abaixar a maré.
            - Então embarque.
            Teve início uma nova viagem.
Fernando Fernandes
      

quarta-feira, 27 de março de 2013

Tributo


      Quando pus meus pés nesse lugar pela primeira vez, foi paixão pura. O verde que havia em você me convenceu que esse seria meu novo local de trabalho, e ali nossa história começou. Você passou a conhecer minhas virtudes e fraquezas; e eu, a admirá-lo.
       De cara, percebi sua grandeza de caráter. Por mais de uma vez, eu via você contaminado pelo mercúrio das lâmpadas fluorescentes. Nem por isso, houve sentimento de vingança. Por outras, a enxurrada de copinhos, vasilhames plásticos e restos de alimentos sobre seu manto faziam-me crer que o seu lado paterno se extinguiria. E as queimadas que provocaram dores intensas em você? Pura atitude de indiferença com alguém tão amoroso, tão acolhedor, tão longânimo. Você sempre ofereceu a outra face.
      Ao  ouvir que as árvores que há em você só serviam para sujar o pátio, imagino sua frustração.  Cheguei a pensar que você explodiria. Não. Seu lado mãe falou mais alto. Recentemente, a percepção de que você se transformaria num lixão me fez crer que, definitivamente, você daria um basta e devolveria, com a mesma moeda, os maus tratos recebidos.
         Puro engano.
      Você sempre me acolheu, protegeu, corrigiu e perdoou. Você se alegrou com a minha alegria e se entristeceu com meu gesto de ingratidão. Nem por isso, você me negou a sua beleza e seu colo.
        E assim você faz a cada pessoa que transita aqui, seja estudante, professor, funcionário, visitante. Mesmo recebendo de uma minoria os piores sentimentos, sempre se mostra grandioso. Como a águia altaneira que vê o macro, você avalia, compreende, perdoa e sempre está pronto a mostrar o melhor caminho.
       Sabe por quê?
       Muita gente lhe deu amor ao longo do seu meio  século   de   existência.     Foi tanto, tanto, tanto que, mesmo que você quisesse, não haveria que se falar em outro tipo de conduta.

                                                Obrigado, Cemtn.

Fernando Fernandes

              

terça-feira, 5 de março de 2013

Reflexos



  Havia encerrado e quitado mais um almoço em um dos quatro self-service restaurants, próximos ao meu local de trabalho. Como disponha de tempo livre, optei em assistir parte do noticiário veiculado pela televisão ali mesmo.
  Enquanto o apresentador revelava cada uma das notícias, pensava na difícil situação dos passageiros da região de Sobradinho e Planaltina, a ineficiência da máquina pública em dar uma solução definitiva ao caos no transporte público e se eu degustaria uma coca-cola.
  Novas notícias foram veiculadas referentes a velhos problemas. Pessoas que estacionam em local não permitido; que matam esposas ou ex-esposas; que teimam em deixar bem óbvio a inércia do estado quando se trata do bem-estar do cidadão. Sinceramente, não sei o porquê de eu assistir telejornais. São todos iguais. Só há perpetuação da miséria humana. Mas havia algo novo. A coca-cola ao meu lado.
  O estado de lerdeza no qual me encontrava foi interrompido ao observar duas crianças sentadas à mesa ao meu lado. Nos seus pratos absolutamente nada de legumes ou hortaliças, quer sejam cruas ou cozidas.
  Continuei degustando minha coca-cola e vi a mãe retornar ao balcão, agora para se servir. Ela se serviria dos alimentos não escolhidos pelos filhos?
  Minha coca-cola acabou e a preguiça em retornar ao trabalho se manteve. Mas a expectativa do suspense em relação ao cardápio da mãe aumentou. Estava longe o suficiente do balcão para contemplar o resultado da sua avaliação após checar, uma a uma, as opções existentes no balcão de alimentos.
  Que pena! Ela seguiu o padrão de escolha das crianças ou reforçou para os pequenos o exemplo a ser seguido?  
  Fiquei sem resposta. 
  Nada de alface, beterraba, cenoura, pepino, repolho, tomate, vagem e outros correlatos. Pelasquantidades do que havia em cada um dos três pratos, nada excepcional. Apenas o que não se encaixa em verduras e legumes. Como eu, as crianças pediram coca-cola para a atendente.
   Desculpe-me. Havia batatas fritas nos pratos.
  Levantei-me. Dirigi-me ao caixa para pagar o refrigerante. Dei uma nota de cinco reais para cobrar dois reais e oitenta centavos. Novo susto. A jovem, sem titubear, lançou mão da maquineta para calcular meu troco.
   Recebi a demasia e deixei o restaurante, já pensando no meu próximo almoço. Onde seria? Serviriam fritas? Haveria nova guerra interior em relação à coquinha?
   Só uma certeza. No meu prato, nada de carne e muito legume com verduras. Inclusive batatas fritas.