sábado, 2 de julho de 2016

Valores

   Uma jovem, para fraudar o INSS com o intuito de receber aposentadoria por invalidez, fingiu ser paraplégica. Como já havia uma suspeita anterior, houve o monitoramento e a vaca acabou indo para o brejo.
      Enquanto pessoas como essa brasileira de 24 anos de idade decidem levar vantagem de forma indevida, minhas idas e vindas ao trabalho são excelentes oportunidades para perseverar no caminho da ética. Nos cruzamentos próximos de onde moro, há adultos e jovens que buscam na venda de doces e alimentos a dignidade do próprio sustento. Nos finais de semana, a mesma saga daquele vendedor de amendoim torrado e daquela vendedora de sacos para lixo nas ruas coroam de orgulho uma fatia enorme do povo brasileiro.
    Deixando as ruas para focar aqueles que caminham ao meu lado, deixo um humilde pedido. Nada de se dar bem à custa do esforço de outras pessoas. Nada de se valer de mentiras para fugir da responsabilidade na execução de tarefa anteriormente designada. Nada de se esconder no anonimato no intuito de se esquivar de eventual culpa neste ou naquele episódio.
   Retornando ao parágrafo inicial, que valores nortearam a adolescência daquela jovem? Se  os conceitos do (a) leitor (a) coincidem com os dela, ainda há tempo para revisão, antes que ...

Fernando Fernandes

sábado, 25 de junho de 2016

Recordação de infância

   Do livro Bom dia, Amor! (Myrthes Mathias, editora Juerp, 1988, páginas 11 e 12), retiro a bela poesia que deixo para deleite de cada um de vocês.
SÓ O AMOR
Dizem que a dor e o amor
fazem o poeta,
mas eu acho que é só o amor:
com ele escrevi os meus primeiros versos
que até hoje ainda sei de cor.
Eram assim:
Eu vejo estrelas no céu,
estrelas no teu olhar;
eu ouço o canto dos anjos,
quando te escuto falar;
nasce uma flor no caminho
quando te vejo passar.
E era verdade:
Eu via estrelas no céu,
estrelas no seu olhar;
ouvia o canto dos anjos
quando o ouvia falar;
via uma flor no caminho
quando ele estava a passar.
Depois, sem ele, escrevi meu primeiro
poema de desilusão,
desses poemas poemas que nascem
nas noites de solidão:
Apagou-se a estrela no céu,
a estrela do seu olhar;
o doce canto dos anjos
já não consigo escutar;
até a flor do caminho
já começou a murchar:
uma vida sem carinho
é um barco longe do mar.
Dizem que a dor e o amor fazem o poeta,
mas eu acho que é só o amor:
quando ele chega é um poema lindo,
quando ele parte a gente escreve: dor!

   Mais do que  preocupar-se com aspectos técnicos ligados à teoria literária tais como o fingimento poético (o fato do sentimento declarado pelo eu lírico não corresponder ao sentimento do autor intelectual da obra) ou na unicidade da dor (a dor pessoal é sempre a maior, é sempre única / todos nós somos passíveis de viver determinada dor), não podemos perder a magia da arte: a possibilidade de sonhar, imaginar, alegrar-se, decepcionar-se, etc).
Fernando Fernandes