quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O que você já pediu a Papai Noel?

     No último final de semana, estava refletindo sobre minha infância em relação a Papai Noel. E o que eu ouvi do professor Marcos Paulo (ou simplesmente Marcos, o Tímido) no nosso Aulão da Despedida foi a centelha que faltava para escrever. Vamos à reflexão.
     Sinceramente, eu não me lembro se meu pai me incentivava a acreditar no bom velhinho. Mas me recordo de curiar a árvore de natal ao anoitecer do dia 24 e não ter presentes. Na manhã seguinte, lá estavam três presentes: um para mim, outro para minha irmã e outro para minha mãe.
     E vocês sabem como são os pensamentos. Parecem como puxar a pelezinha do cantinho da unha. A gente futuca, futuca e acaba sangrando. E assim aconteceu.
     Pensando especificamente no meu pai, que tive até meus 43 anos de idade (hoje tenho 51), cheguei à conclusão de que pedi poucas coisas para ele, embora ele me tenha dado tudo. Um desses pedidos foi um carrinho, do tipo cegonha (carreta que transporta automóveis de passeio) em um Natal. Ele me deu o dinheiro, fui até a loja e comprei-o. Nesse caso o Santa Claus não colocou nada sob a árvore.
     Quando trabalhei como balconista em uma padaria (nessa época, tinha 19 anos), precisava fazer um cursinho preparatório para uma determinada prova. Como havia revezamento de horário entre os empregados e nenhum deles quis facilitar minha vida, meu pai me cobria na semana em que eu perderia as aulas, tudo isso após ele cumprir sua jornada de trabalho. E isso eu não pedi ao meu pai. Ele sentiu minhas dores e, para aliviar as minhas, agravou as dele. Contudo, não foram em vão.
     Os anos se passaram, até que Deus me deu a honra de passar  com ele suas últimas doze horas de vida, após minha mãe, minha irmã, meu cunhado, alguns primos e conhecidos, lá no Rio, batalharem com ele bravamente contra um traiçoeiro, infame e sagaz inimígo: o câncer.
      É nesse ponto que entram as palavras sábias do professor Marcos. Vivemos em uma sociedade extremamante egocêntrica, ensimesmada, egoísta, subjetiva. É como fôssemos nefelibatas, isto é, estarmos vivendo nas nuvens, em um eterno mundo de fantasia em que tudo funciona e a justiça impera ou como se fôssemos obinubilados, isto é, cobertos por uma nuvem que nos impede de ver a realidade. Nessa ótica, o primeiro slide do Aulão trouxe a palavra BLINDNESS (cegueira). Em alguns momentos, um dos palestrantes usou o termo BLINDEX (tipo de vidro escurecido) e o termo BLINDADO ou BLINDAGEM,  (aquilo que proteje e não permite que nada penetre), esse eu não tenho certeza. Tudo isso, acrescentado da deletéria (destrutiva) ideia  do Papai Noel, em que pedimos, pedimos, pedimos e, claro, pedimos.
     Mas... o que o Marcos, o Tímido, disse de tão importante para você nesse último Aulão que fez com que você escrevesse?
      Respondo. Lá pelas tantas, ele disse que deveríamos parar de pedir e mudar de atitude, no caso, que deveríamos nos doar a alguém ou a alguma coisa ou a alguma causa.
      E a pelezinha que eu estava futucando há 96 horas atrás,  sangrou. Por mais que eu me considere um bom professor e me doe aos alunos, por mais que eu me considere um bom filho, um bom marido, um bom pai e um bom avô (é exatamente o que você leu), eu ainda devo. E muito.
     Quanto ao meu pai, não posso mais me doar a ele, pois ele não está mais aqui. Mas posso colocar todo o seu exemplo de vida, de dedicação à esposa e aos filhos como um padrão a ser seguido. E cada vez que consigo imitá-lo, é como se eu me doasse um pouco a ele, mesmo sem ele saber. Ainda tenho como me doar a aqueles que estão ao meu redor, inclusive você.
     Mas... e o Papai Noel? Está perdido nessa reflexão?
     Não. Porque se existiu algum Papai Noel, este foi, certamente, meu pai. 

Fernando Fernandes
    
     

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