sexta-feira, 15 de junho de 2012

Green ou gray?

     Há dez dias, refleti sobre as diferentes nuances relativas ao que se fala em oposição ao que se faz envolvendo o meio ambiente.
     Hoje, gostaria de aprofundar essa discussão por meio da pergunta que dá título ao que transcorrerá nas linhas abaixo tendo em mente a comunidade que passa a maior parte do dia comigo, de oito a oitenta anos.
     Caminhemos, então.
     Uma pessoa que viveu inserida no ambiente escolar por, no máximo oito anos, sabe que o chão de um auditório não é o lugar para se depositar papéis, copos descartáveis e vasilhames contendo refrigerante ou não. Pois é. Uma garrafa pet de Mineirinho na posição deitada acompanhada de copos descartáveis vazios sob cadeiras de um auditório foram notadas. E isso em um lugar onde só cabem cerca de cento e vinte pessoas e é usado ocasionalmente. Como deve ser uma sala de cinema localizada em um Shopping Center em relação a alimentos ingeridos? Só encontro uma resposta para esse tipo de procedimento: se cada um de conservar consigo seu lixinho e acondicioná-lo em uma lixeira (desculpe-me o pleonasmo), funcionários que fazem limpeza perderão seus postos de trabalho. Desemprego, to fora.
     Uma pessoa que trabalhou em um ambiente escolar por, no mínimo oito anos, é ciente de que lâmpadas fluorescentes tubulares - daquelas compridas - possuem em seu interior elementos químicos que prejudicam a saúde das pessoas e o solo. Também é ciente de que esses objetos devem ser descartados em locais que possam apontar para uma reciclagem futura. Lâmpadas como as citadas foram vistas na grama próximo – e pelo lado de dentro – a um portão de entrada de carros. Possivelmente, a justificativa para tal atitude passa pela dificuldade no manuseio, pois um acidente é possível. E como fica a integridade física do funcionário da limpeza urbana? E do catador de lixo? Cada um por si, e Deus por todos.
     Ufa! Já estou cansado de caminhar e ainda faltam considerar as queimadas em detrimento do acondicionamento do lixo, o uso abusivo da água ao invés de fechar a torneira ou controlar o fluxo, as luzes acesas sem necessidade, entre outras paisagens que poderíamos contemplar se não parássemos aqui. Descansemos. Depois, continuamos.
     Há vinte anos, aconteceu no Brasil a ECO 92. Hoje, o Rio+20. Em 2032, teremos o Rio+40; depois, o Rio+60, Rio+80, o Rio+, o Rio, o.
     E quantas conferências ecológicas precisarão acontecer para que eu e você transformemos o cinza em verde?





Fernando Fernandes



sábado, 9 de junho de 2012

Por um ambiente melhor

    No dia 5 de junho próximo passado, comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, inserido  na denominada Semana do Meio Ambiente. Também nesse mês, o Brasil sediará a Rio + 20, conferência da ONU que irá reunir líderes mundiais para discutir meios para fazer do nosso planeta um lugar melhor para se viver. Há vinte anos atrás, também no Rio de Janeiro, aconteceu a Eco92, com a mesma finalidade.
   Mas não é sobre discussões acaloradas promovidas por altas autoridades que quero discorrer. Desejo refletir, sim, sobre o que se fala em oposição ao que se faz. 
   Enquanto se gasta quantias imensas em seminários envolvendo líderes estrangeiros,  há sacos de lixo rasgados e esparramados pelo chão da rua onde moro. Aconteceu recentemente na porta da minha casa, quando fui acondicionar o lixo no suporte metálico que mandei instalar na calçada. Para minha surpresa e indignação, havia um saco de lixo rasgado com vidros quebrados, restos de refrigerante e papéis espalhados pela calçada. Por impulso, decidi não ajeitar, já que aquele lixo não me pertencia. Cheguei a voltar para dentro de casa. Mas... em respeito a alguém que também poderia se cortar naqueles vidros e  tão vítima quanto eu, voltei à rua munido de sacola plástica, vassoura e pazinha e contribuí para a melhoria do planeta naquele anoitecer.
   Enquanto campanhas educativas são veiculadas nas mais diferentes mídias em relação à separação do lixo (papel, plástico, metais, pilhas e eletrônicos, resíduos alimentares), a coleta domiciliar de lixo irá misturar tudo. Minha esposa, nesse ponto, é de tirar  o chapéu. Mesmo sabendo que todo o lixo que está acondicionado de forma separada será transformado em uma mistura homogênea após ser sido colocado no caminhão de coleta, minha amada continua a fazer a sua parte na coleta seletiva em prol de um mundo melhor. 
   Enquanto escolas promovem projetos voltados para a preservação do meio ambiente, as salas de aula e áreas externas precisam ser varridas a cada turno devido ao lixo esparramado pelo chão. Como professor de Ensino Médio em uma escola de Ensino Médio, sou testemunha ocular da história de como há  desperdício de mão de obra. Já tive o privilégio de me abaixar para pegar garrafa pet de refrigerante semicheia que rolava pelo corredor de um dos blocos de salas; já fui honrado em presenciar uma das senhoras que fazem a varrição da área externa do colégio catar copos descartáveis que já deveriam estar no lixo e, ao que tudo indica, estavam passeando pela escola. Quem sabe esses copos deveriam ser advertidos por matarem aula? Na época em que biscoitos do tipo salgadinho eram vendidos no colégio, era possível efetuar uma pesquisa de mercado em relação qual a marca/sabor mais apreciado sem precisar ir até à cantina ou fuçar nas lixeiras. Bastava esperar um pouco, pois os pacotes vazios chegariam até o pesquisador por ação eólica. No fim de tarde anterior ao Dia Mundial do Meio Ambiente próximo passado, meu colégio foi presenteado com a seguinte ação em prol da melhoria do planeta: a segunda fogueira ateada em um espaço de vinte dias.
     Sei que não sou perfeito, pois também tive o meu dia de pisada na bola. Naquele dia, ao sair do colégio, já no meu carro parado ao lado de um ônibus repleto de alunos em um semáforo, havia jogado um papel de bala pela janela. Se algum daqueles alunos me reconheceu naquele longínquo anoitecer ...


Fernando Fernandes
    



sexta-feira, 1 de junho de 2012

Estou de volta

   Estou de volta após seis meses de ausência. Sei que nada do que disser justifica minha ausência. Mas pretendo justificar o meu retorno.
   Nesse hiato, estive por vinte dias na cidade de São Francisco e arredores para rever uma parente que não via há bastante tempo. Também assumi novas funções na minha profissão após dezesseis anos de docência.
   Quantas ideias vieram à mente! Mas algo me segurava e não as exteriorizava. E as indignações em relação ao (des) governo local e nacional? Infelizmante, guardei-as só para mim. E as experiências agradáveis envolvendo uma cultura diferente? De tão especiais, mantive-as no meu coração. E em relação ao trabalho, senti-me inseguro e, ao mesmo tempo, acanhado em me abrir. E motivos para dividir existiram.
   Porém, as carinhosas e certeiras palavras como flechas na mão de uma exímia arqueira atingiram a fronteira que fica entre o corpo e a alma. E ela, mesmo sem enxergar (essa minha ex-aluna é completamente cega) conseguiu mirar e tocar no local exato dentro do meu ser há dois dias atrás. Ironicamente, essa mesma arqueira havia enxergado meu coração e, com suas palavras, mesmo sem saber do ocorrido, devolveu a alegria que me fora roubada* uma hora antes por outros alunos da turma em que eu estava a ministrar uma aula de literatura em uma tarde de 2011. Significam que uma mesma pessoa que não possui a capacidade de ver com seus próprios olhos pôde enxergar meu coração por duas vezes e modificar o curso da minha vida.
   Por fim, contemplo o meu interior e fico a indagar comigo mesmo quando serei capaz de enxergar com um orgão diferente dos olhos. Minha adorável arqueira, obrigado novamente pela lição.
   Aprendi que é possível enxergar com as mãos, é possível enxergar com o silêncio, com palavras suaves, com exortação firme, com um aroma suave. Mas o grande mistério é usar a ferramenta correta para aquele determinado momento.

Fernando Fernandes

* Caso se interesse pela experiência, leia a publicação Quem sabe, quem sabe, quem sabe... neste mesmo blog.