Estou de volta após seis meses de ausência. Sei que nada do que disser justifica minha ausência. Mas pretendo justificar o meu retorno.
Nesse hiato, estive por vinte dias na cidade de São Francisco e arredores para rever uma parente que não via há bastante tempo. Também assumi novas funções na minha profissão após dezesseis anos de docência.
Quantas ideias vieram à mente! Mas algo me segurava e não as exteriorizava. E as indignações em relação ao (des) governo local e nacional? Infelizmante, guardei-as só para mim. E as experiências agradáveis envolvendo uma cultura diferente? De tão especiais, mantive-as no meu coração. E em relação ao trabalho, senti-me inseguro e, ao mesmo tempo, acanhado em me abrir. E motivos para dividir existiram.
Porém, as carinhosas e certeiras palavras como flechas na mão de uma exímia arqueira atingiram a fronteira que fica entre o corpo e a alma. E ela, mesmo sem enxergar (essa minha ex-aluna é completamente cega) conseguiu mirar e tocar no local exato dentro do meu ser há dois dias atrás. Ironicamente, essa mesma arqueira havia enxergado meu coração e, com suas palavras, mesmo sem saber do ocorrido, devolveu a alegria que me fora roubada* uma hora antes por outros alunos da turma em que eu estava a ministrar uma aula de literatura em uma tarde de 2011. Significam que uma mesma pessoa que não possui a capacidade de ver com seus próprios olhos pôde enxergar meu coração por duas vezes e modificar o curso da minha vida.
Por fim, contemplo o meu interior e fico a indagar comigo mesmo quando serei capaz de enxergar com um orgão diferente dos olhos. Minha adorável arqueira, obrigado novamente pela lição.
Aprendi que é possível enxergar com as mãos, é possível enxergar com o silêncio, com palavras suaves, com exortação firme, com um aroma suave. Mas o grande mistério é usar a ferramenta correta para aquele determinado momento.
Fernando Fernandes
* Caso se interesse pela experiência, leia a publicação Quem sabe, quem sabe, quem sabe... neste mesmo blog.
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