quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Quem te ...

                  Parafraseando os últimos versos do Hino Nacional Brasileiro, o poeta afirma que a pátria amada é a mãe gentil dos filhos deste solo. E esse amor doado pela mãe encoraja a cada um dos seus a lutar por ela, ainda que tenha de morrer. Entretanto, há versos que demonstram outra realidade.  Nesse caso, da mesma pátria que, ao gerar um filho, faz de tudo para se ver livre dele.
             Em relação ao nosso hino pátrio, a despeito do vocabulário um tanto rebuscado para o nosso cotidiano, penso que nada há a comentar. Todos entendemos essa declaração de amor e fidelidade que a pátria brasileira recebe. Porém, que outros versos são esses que revelam desrespeito, desprezo e repulsa?
                Há cerca de dez anos, surge Pátria Que me Pariu, canção que narra a trajetória de um menino que viveu apenas quatorze anos. Tendo como mãe uma prostituta, o narrador revela a garra desse novo ser que, desde o ventre, já sofrera tentativas de assassinato. Recém-nascido, já abandonado em um terreno baldio.
               Os anos se passam. Esse garoto continua tentando vencer todas as dificuldades que enfrenta. E revela seu lado sonhador ao afirmar que não é pivete e que não vai virar ladrão se o leite e pão lhe forem dados. Por outro lado, dizem a ele que não há futuro e que ele deve reagir a toda a maldade que recebe.
              A luta do bem contra o mal revela um vencedor. O adolescente dá um basta. Decide parar de apanhar para bater. Envolvido com drogas, há um enfrentamento. O mais forte dá o veredito. Aos quatorze anos, deixa essa vida.
               Cinco anos atrás, conheci a canção. Estarreci. Por um lado, a realidade do menor abandonado brasileiro. Por outro lado, a habilidade do compositor na construção das imagens de dor.
               Usar pariu no lugar de dar à luz animaliza a futura vida. E animaliza a mãe. O verso um feto forte escapou da morte é de uma riqueza a toda a prova. Metaforiza toda a condição adversa presente em uma gravidez gerada fora das condições ideais. Já nos versos será a cara do desespero ou da esperança num futuro melhor, um emprego, um lar?, um raio de esperança ainda está presente na vida das crianças abandonadas. E o verso final demorou, mas a sua pátria mãe gentil conseguiu realizar o aborto sintetiza toda a ineficiência por parte do governo, das entidades religiosas, dos diferentes grupos educacionais, da família. Por mais que se faça, é pouco.
                Se pudesse, ficaria toda a noite escrevendo sobre cada verso.
                Leitor (a), deixo dois desafios. O primeiro, buscar nos versos que não comentei o desejo de fazer o bem e fazê-lo; o segundo, de responder minha indagação abaixo.

                O Brasil é mãe gentil de todos nós ou é a pátria que nos pariu?

Fernando Fernandes

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