Nesta, analisamos de forma breve a atuação de dois nomes envolvidos na escola barroca em língua portuguesa.
A) Padre Antônio Vieira (1608/1697) - O maior orador conceptista do período e a principal expressão do Barroco em Portugal, desde cedo destacou-se no conhecimento das escrituras e em sua capacidade como orador. Mesmo sendo religioso, pôs seus sermoes a serviços das causas políticas portuguesas. O fato de ter sido conselheiro do rei de Portugal e representante português em outros países conferem a Vieira a condição de alguém com livre trânsito entre a elite dominante do período.
No link http://www.usp.br/cje/anexos/pierre/padreantoniov.pdf é possível encontrar inúmeros sermões do padre Vieira.
Abaixo, framento do Sermão do bom ladrão, pregado na igreja da Misericórdia, em Lisboa, na Quaresma de 1655, perante cortesãos e altos dignitários, Vieira versou sobre corrupção.
Observe a técnica utilizada apelo padre na apresentação das ideias. Elas exemplificam o conceptismo, já abordado em postagens anteriores.
(...) Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam.(...)
Abaixo, framento do Sermão do bom ladrão, pregado na igreja da Misericórdia, em Lisboa, na Quaresma de 1655, perante cortesãos e altos dignitários, Vieira versou sobre corrupção.
Observe a técnica utilizada apelo padre na apresentação das ideias. Elas exemplificam o conceptismo, já abordado em postagens anteriores.
(...) Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas, ou espreitam os que se vão banhar para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, já com manha, já com força, roubam e despojam povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam debaixo de seu risco, estes sem temor nem perigo; os outros, se furtam, são enforcados; estes furtam e enforcam.(...)
B) Gregório de Matos (1633/1697) - Nascido em Salvador e tendo formação acadêmica e religiosa em Portugal, é considerado o principal representante da escola barroca no Brasil. Sua produção poética abrangeu três grandes áreas. Na lírica amorosa e religiosa, Gregório segue o princípio do Barroco europeu. Na lírica filosófica, a condição humana e do próprio mundo são questionadas. Na lírica satírica, a originalidade poética se destaca uma vez que são temas nacionais envolvendo o desgoverno de Salvador, a ponto de ser apelidado de "Boca do Inferno".
No link http://www.cespe.unb.br/interacao/Poemas_Selecionados_%20Gregorio_de_Matos.pdf é possível encontrar inúmeros poemas da autoria de Gregório de Matos.
Abaixo, um poema representante de cada temática adotada pelo autor.
Abaixo, um poema representante de cada temática adotada pelo autor.
Pintura admirável de uma beleza - lírica amorosa
Vês esse sol de luzes coroado?
Em pérolas a aurora convertida?
Vês a lua de estrelas guarnecida?
Vês o céu de planetas adorado?
O céu deixemos; vês naquele prado
A rosa com razão desvanecida?
A açucena por alva presumida?
O cravo por galã lisonjeado?
Deixa o prado; vem cá, minha adorada:
Vês desse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljôfar desatada?
Parece aos olhos ser de prata fina?
Vês tudo isso bem? Pois tudo é nada
A vista do teu rosto, Catarina.
Ao braço de Menino Jesus - lírica religiosa
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo.
Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
Em qualquer parte sempre fica o todo.
O braço de Jesus não seja parte,
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.
Incentivo para recordar os males no fluxo e refluxo da maré - lírica filosófica
Seis horas enche e outras tantas vasa
A maré pelas margens do oceano
E não larga a tarefa um ponto do ano,
Porquanto o mar rodeia, e o sol abrasa.
Desde a esfera primeira opaca, ou rasa,
A Lua com impulso soberano
Engole o mar por um secreto cano,
E quando o mar vomita, o mundo arrasa.
Muda-se o tempo e suas temperanças,
Até o céu se muda, a terra, os mares,
E tudo está sujeito a mil mudanças.
Só eu, que todo o fim de meus pesares
Eram de algum minguante as esperanças,
Nunca o minguante vi de meus azares.
O poeta descreva a Bahia - lírica satírica
A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha;
Não sabem governar sua cozinha
E podem governar o mundo inteiro.
Em cada porta um bem frequente olheiro,
Que a vida do vizinho e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para o levar à praça e ao terreiro.
Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos sob os pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia,
Estupendas usuras nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.
Nos poemas acima, o que melhor representa o jogo de palavras do cultismo (explicado em postagens anteriores) é o exemplo da lírica religiosa.
Nesse ponto, encerramos as publicações que resumem as aulas ministradas em outubro referente à escola barroca.
Um breve contexto histórico, características literárias, os principais representantes literários da escola barroca em língua portuguesa e exemplos da sua produção artística foram demonstrados.
É evidente que as aulas não esgotam o assunto. Mas são suficientes para permitir o aprofundamento, conforme o interesse pessoal pelo tema.
O próximo assunto a ser trabalhado será a literatura iluminista europeia e brasileira (o Arcadismo).
Fernando Fernandes