Há
uma semana, dirigi-me ao comércio local para cumprir duas missões igualmente
importantes. Por questões de comodidade, deixei meu carro em um local em que
não me aborreceria em manobrar ou mendigar vaga. Sabia que daria duas
caminhadas.
Na primeira etapa, tudo transcorreu
normalmente. Guardei a primeira encomenda no carro e retornei ao comércio para
a próxima empreitada.
De repente, não mais do que de
repente, tudo escuro.
Uma chuvarada de dez minutos
transformou a rua em rio. E lá estava eu querendo atravessá-la. Mas com fazê-lo
sem nadar?
Fiquei parado obsevando os pedaços
de pau, latinhas de refrigerante e sacos plásticos que tentavam se salvar
inutilmente da correnteza. Também as marolas que os automóveis criavam.
Foi gostoso.
Lembrei-me de outra chuvarada há uns
vinte anos. Daquela vez, eu encarara tudo a ponto de chegar à sala de aula da
faculdade igualzinho a um pinto molhado. E de uma outra, quando resolvera ir de
Taguatinga a Samambaia pedalando. Retornara mais encharcado do que... E uma na
minha adolescência, ao usar minha bicicleta para ir ao hospital visitar minha
mãe que sofrera uma intervenção cirúrgica. Que mico! De um ano
para cá, uso bicicleta ou meus pés para ir ao trabalho. Ainda não aconteceu.
A chuva cessou. O mover das águas,
não.
E continuava a viajar no tempo
quando fui despertado por um senhor que destrancava seu carro para seguir seu
destino.
- Você quer atravessar a rua?
- Estou esperando abaixar a maré.
- Então embarque.
Teve início uma nova viagem.
Fernando
Fernandes
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