quinta-feira, 28 de março de 2013

Prazeres


       Há uma semana, dirigi-me ao comércio local para cumprir duas missões igualmente importantes. Por questões de comodidade, deixei meu carro em um local em que não me aborreceria em manobrar ou mendigar vaga. Sabia que daria duas caminhadas.
       Na primeira etapa, tudo transcorreu normalmente. Guardei a primeira encomenda no carro e retornei ao comércio para a próxima empreitada.
           De repente, não mais do que de repente, tudo escuro.
      Uma chuvarada de dez minutos transformou a rua em rio. E lá estava eu querendo atravessá-la. Mas com fazê-lo sem nadar?
          Fiquei parado obsevando os pedaços de pau, latinhas de refrigerante e sacos plásticos que tentavam se salvar inutilmente da correnteza. Também as marolas que os automóveis criavam.
           Foi gostoso.
         Lembrei-me de outra chuvarada há uns vinte anos. Daquela vez, eu encarara tudo a ponto de chegar à sala de aula da faculdade igualzinho a um pinto molhado.  E de uma outra, quando resolvera ir de Taguatinga a Samambaia pedalando. Retornara mais encharcado do que... E uma na minha adolescência, ao usar minha bicicleta para ir ao hospital visitar minha mãe que sofrera uma intervenção cirúrgica. Que mico! De um ano para cá, uso bicicleta ou meus pés para ir ao trabalho. Ainda não aconteceu.
             A chuva cessou. O mover das águas, não.
            E continuava a viajar no tempo quando fui despertado por um senhor que destrancava seu carro para seguir seu destino.
            - Você quer atravessar a rua?
            - Estou esperando abaixar a maré.
            - Então embarque.
            Teve início uma nova viagem.
Fernando Fernandes
      

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