Num
dos telejornais noturnos da semana, um comentário sobre o aborto e a união
homoafetiva chamou-me a atenção após notícia em que cerca de meio milhão de pessoas,
nas ruas, reivindicou um referendo popular para decidir sobre a união homoafetiva
e a não aprovação desse direito pela via parlamentar francesa; também que, no
Brasil, 74% da população aprova a eleição do papa Francisco (contrário à união
entre pessoas do mesmo sexo), porém 57% rejeita a união civil entre
homossexuais, 33% dos gays escondem sua orientação para pessoas próximas por
medo de algum tipo de represália e 54% rejeitam o aborto. Tudo para mostrar o
descompasso entre a aprovação da eleição do novo papa, o que ele defende e o
apoio da população brasileira ao que ele pensa.
Destaco, em relação ao todo que foi avaliado,
as seguintes afirmações do comentarista: é
direito da mulher saber, decidir se ela quer ter o filho ou não; fazer do seu
corpo aquilo que for melhor, o mais conveniente pra ela, desde que ela esteja,
obviamente, no pleno uso das suas faculdades mentais e tenham maturidade e
idade suficientes para decidir sobre seu próprio destino.
Se é direito da mulher decidir sobre
ter o filho ou não, como fica o direito da criança que está no ventre? Todos
nós sabemos que uma vida só pode gerar outra vida. Um ser vivo só gera outro
ser vivo da mesma espécie. A diferença entre uma criança e um adulto é o
diferente grau no desenvolvimento dos seus diversos sistemas. Por exemplo, com
quatro anos, uma criança não é biologicamente capaz de se reproduzir. Anos mais
tarde, sim. A diferença entre um feto de uma semana, outro de dez, quinze,
vinte semanas e de um recém-nascido também é o diferente grau de
desenvolvimento. Portanto, há um ser lá dentro que não teve a oportunidade de
decidir. Tirar a vida de outrem, independente de leis, é crime.
Se é direito da mulher fazer do seu
corpo o que for melhor, o mais conveniente desde que esteja madura e
mentalmente capaz, subtende-se que o mais conveniente e melhor em relação ao
seu destino são as ações que geram prazer ou que minimizam as dores, isto é, satisfazem
ao ego. Dessa forma, mulheres que foram agredidas proporcionaram aos seus
companheiros agressores o direito de decidir sobre o que traria paz, alívio a
eles. Assim como a mulher agredida pelo parceiro foi desrespeitada em seu
direito à decisão sobre seu futuro, o ser que está sendo gerado também está
sendo agredido. Eu, mulher, tenho meu direito a não apanhar negado e, ao mesmo
tempo, nego o direito de alguém a viver. Logo, essa história de alguém poder
decidir sobre seu próprio destino é lícita, desde que não interfira no direito
do outro em decidir também sobre o seu amanhã.
Ainda bem que eu não fui abortado.
Caso contrário, tão teria a oportunidade de exercer meu direto como cidadão em
discordar, da forma mais educada e polida possível, sobre a visão de mundo do
respeitado comentarista.
Nem ele.
Fernando
Fernandes
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