quinta-feira, 28 de março de 2013

Direitos


      Num dos telejornais noturnos da semana, um comentário sobre o aborto e a união homoafetiva chamou-me a atenção após notícia em que cerca de meio milhão de pessoas, nas ruas, reivindicou um referendo popular para decidir sobre a união homoafetiva e a não aprovação desse direito pela via parlamentar francesa; também que, no Brasil, 74% da população aprova a eleição do papa Francisco (contrário à união entre pessoas do mesmo sexo), porém 57% rejeita a união civil entre homossexuais, 33% dos gays escondem sua orientação para pessoas próximas por medo de algum tipo de represália e 54% rejeitam o aborto. Tudo para mostrar o descompasso entre a aprovação da eleição do novo papa, o que ele defende e o apoio da população brasileira ao que ele pensa.
         Destaco, em relação ao todo que foi avaliado, as seguintes afirmações do comentarista: é direito da mulher saber, decidir se ela quer ter o filho ou não; fazer do seu corpo aquilo que for melhor, o mais conveniente pra ela, desde que ela esteja, obviamente, no pleno uso das suas faculdades mentais e tenham maturidade e idade suficientes para decidir sobre seu próprio destino.
         Se é direito da mulher decidir sobre ter o filho ou não, como fica o direito da criança que está no ventre? Todos nós sabemos que uma vida só pode gerar outra vida. Um ser vivo só gera outro ser vivo da mesma espécie. A diferença entre uma criança e um adulto é o diferente grau no desenvolvimento dos seus diversos sistemas. Por exemplo, com quatro anos, uma criança não é biologicamente capaz de se reproduzir. Anos mais tarde, sim. A diferença entre um feto de uma semana, outro de dez, quinze, vinte semanas e de um recém-nascido também é o diferente grau de desenvolvimento. Portanto, há um ser lá dentro que não teve a oportunidade de decidir. Tirar a vida de outrem, independente de leis, é crime.
        Se é direito da mulher fazer do seu corpo o que for melhor, o mais conveniente desde que esteja madura e mentalmente capaz, subtende-se que o mais conveniente e melhor em relação ao seu destino são as ações que geram prazer ou que minimizam as dores, isto é, satisfazem ao ego. Dessa forma, mulheres que foram agredidas proporcionaram aos seus companheiros agressores o direito de decidir sobre o que traria paz, alívio a eles. Assim como a mulher agredida pelo parceiro foi desrespeitada em seu direito à decisão sobre seu futuro, o ser que está sendo gerado também está sendo agredido. Eu, mulher, tenho meu direito a não apanhar negado e, ao mesmo tempo, nego o direito de alguém a viver. Logo, essa história de alguém poder decidir sobre seu próprio destino é lícita, desde que não interfira no direito do outro em decidir também sobre o seu amanhã.
          Ainda bem que eu não fui abortado. Caso contrário, tão teria a oportunidade de exercer meu direto como cidadão em discordar, da forma mais educada e polida possível, sobre a visão de mundo do respeitado comentarista.
           Nem ele.        

Fernando Fernandes
            

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