terça-feira, 5 de março de 2013

Reflexos



  Havia encerrado e quitado mais um almoço em um dos quatro self-service restaurants, próximos ao meu local de trabalho. Como disponha de tempo livre, optei em assistir parte do noticiário veiculado pela televisão ali mesmo.
  Enquanto o apresentador revelava cada uma das notícias, pensava na difícil situação dos passageiros da região de Sobradinho e Planaltina, a ineficiência da máquina pública em dar uma solução definitiva ao caos no transporte público e se eu degustaria uma coca-cola.
  Novas notícias foram veiculadas referentes a velhos problemas. Pessoas que estacionam em local não permitido; que matam esposas ou ex-esposas; que teimam em deixar bem óbvio a inércia do estado quando se trata do bem-estar do cidadão. Sinceramente, não sei o porquê de eu assistir telejornais. São todos iguais. Só há perpetuação da miséria humana. Mas havia algo novo. A coca-cola ao meu lado.
  O estado de lerdeza no qual me encontrava foi interrompido ao observar duas crianças sentadas à mesa ao meu lado. Nos seus pratos absolutamente nada de legumes ou hortaliças, quer sejam cruas ou cozidas.
  Continuei degustando minha coca-cola e vi a mãe retornar ao balcão, agora para se servir. Ela se serviria dos alimentos não escolhidos pelos filhos?
  Minha coca-cola acabou e a preguiça em retornar ao trabalho se manteve. Mas a expectativa do suspense em relação ao cardápio da mãe aumentou. Estava longe o suficiente do balcão para contemplar o resultado da sua avaliação após checar, uma a uma, as opções existentes no balcão de alimentos.
  Que pena! Ela seguiu o padrão de escolha das crianças ou reforçou para os pequenos o exemplo a ser seguido?  
  Fiquei sem resposta. 
  Nada de alface, beterraba, cenoura, pepino, repolho, tomate, vagem e outros correlatos. Pelasquantidades do que havia em cada um dos três pratos, nada excepcional. Apenas o que não se encaixa em verduras e legumes. Como eu, as crianças pediram coca-cola para a atendente.
   Desculpe-me. Havia batatas fritas nos pratos.
  Levantei-me. Dirigi-me ao caixa para pagar o refrigerante. Dei uma nota de cinco reais para cobrar dois reais e oitenta centavos. Novo susto. A jovem, sem titubear, lançou mão da maquineta para calcular meu troco.
   Recebi a demasia e deixei o restaurante, já pensando no meu próximo almoço. Onde seria? Serviriam fritas? Haveria nova guerra interior em relação à coquinha?
   Só uma certeza. No meu prato, nada de carne e muito legume com verduras. Inclusive batatas fritas.

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