Havia encerrado e quitado mais um almoço em um dos quatro self-service restaurants, próximos ao
meu local de trabalho. Como disponha de tempo livre, optei em assistir parte do
noticiário veiculado pela televisão ali mesmo.
Enquanto o apresentador revelava cada uma das notícias,
pensava na difícil situação dos passageiros da região de Sobradinho e
Planaltina, a ineficiência da máquina pública em dar uma solução definitiva ao
caos no transporte público e se eu degustaria uma coca-cola.
Novas notícias foram veiculadas referentes a velhos
problemas. Pessoas que estacionam em local não permitido; que matam esposas ou
ex-esposas; que teimam em deixar bem óbvio a inércia do estado quando se trata
do bem-estar do cidadão. Sinceramente, não sei o porquê de eu assistir
telejornais. São todos iguais. Só há perpetuação da miséria humana. Mas havia
algo novo. A coca-cola ao meu lado.
O estado de lerdeza no qual me encontrava foi interrompido ao
observar duas crianças sentadas à mesa ao meu lado. Nos seus pratos
absolutamente nada de legumes ou hortaliças, quer sejam cruas ou cozidas.
Continuei degustando minha coca-cola e vi a mãe retornar ao
balcão, agora para se servir. Ela se serviria dos alimentos não escolhidos
pelos filhos?
Minha coca-cola acabou e a preguiça em retornar ao trabalho
se manteve. Mas a expectativa do suspense em relação ao cardápio da mãe
aumentou. Estava longe o suficiente do balcão para contemplar o resultado da
sua avaliação após checar, uma a uma, as opções existentes no balcão de
alimentos.
Que pena! Ela seguiu o padrão de escolha das crianças ou
reforçou para os pequenos o exemplo a ser seguido?
Fiquei sem resposta.
Nada de alface, beterraba, cenoura, pepino, repolho, tomate,
vagem e outros correlatos. Pelasquantidades do que havia em cada um dos três
pratos, nada excepcional. Apenas o que não se encaixa em verduras e legumes. Como
eu, as crianças pediram coca-cola para a atendente.
Desculpe-me. Havia batatas fritas nos pratos.
Levantei-me. Dirigi-me ao caixa para pagar o refrigerante.
Dei uma nota de cinco reais para cobrar dois reais e oitenta centavos. Novo
susto. A jovem, sem titubear, lançou mão da maquineta para calcular meu troco.
Recebi a demasia e deixei o restaurante, já pensando no meu
próximo almoço. Onde seria? Serviriam fritas? Haveria nova guerra interior em
relação à coquinha?
Só uma certeza. No meu prato, nada de carne e muito legume
com verduras. Inclusive batatas fritas.
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