sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Arcadismo e Cláudio Manoel da Costa

           Nas postagens anteriores, conhecemos um pouco da obra de Bocage e de Tomás Antônio Gonzaga. Também foram feitas análises com possibilidades de interpretação e reconhecimento de características literárias.
         Agora, conheceremos aquele que trouxe para o Brasil as tendências artísticas do Neoclassicismo, o Arcadismo: Cláudio Manoel da Costa.
                Brasileiro, nascido em 1729, foi jesuíta e formou-se em Direito em Portugal. Além das suas atividades profissionais, também envolveu-se na Inconfidência Mineira junto a outros inconfidentes, como Tiradentes e Tomás Antônio Gonzaga. Em 1789, foi encontrado morto onde estava preso.
                Com o pseudônimo de Glauceste Satúrnio, soube trabalhar os temas árcades embora se saísse melhor em relação aos temas clássicos, especialmente aqueles que foram desenvolvidos no Renascimento em Portugal, via Camões.
                Conheçamos um pouco da sua obra por meio da análise de dois sonetos.

Torno a ver-vos, ó montes; o destino
Aqui me torna a pôr nestes oiteiros;
Onde um tempo os gabões deixei grosseiros
Pelo traje da Corte rico, e fino.

Aqui estou entre Almendro, entre Corino,
Os meus fiéis, meus doces companheiros,
Vendo correr os míseros vaqueiros
Atrás de seu cansado desatino.

Se o bem desta choupana pode tanto,
Que chega a ter mais preço, e mais valia,
Que da cidade o lisonjeiro encanto;

Aqui descanse a louca fantasia;
E o que te agora se tornava em pranto,
Se converta em afetos de alegria.

                O poema, também enquadrado como soneto italiano, possui  rimas ABBA / ABBA / CDC / DCD e versos decassílabos.
          
               Em relação aos temas latinos, temos:
a) Locus amoenus – a alegria do eu lírico em retornar ao ambiente campestre.
b) Locus horrendus – a Corte, onde viveu parte da vida.
c) Fugere urbem – a saída da Corte demonstra esse deixar a cidade para retornar ao campo.
d) Inutilia truncat  / Aurea mediocritas – o eu lírico abre mão dos luxos da corte (Inutilia truncat) em função da vida simples e feliz no campo (Aurea mediocritas).

                Os nomes Almendro e Corino resgatam a cultura grego-romana.
          
               Deixo o seguinte desafio.
a) A partir do vocabulário do poema, monte uma tabela com duas colunas, uma para cidade e outra para o campo. Em seguida, localize no poema que palavras remetem à cidade e ao campo e transcreva-as para a tabela.

b) Em relação às palavras do eu lírico aos montes, onde ele se sente melhor? Na infância / atualmente ou no período em que viveu na Corte? Justifique sua resposta.
               
Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.

Que bem é ver nos campos transladado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato, e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!

Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trata a mentira, outro a verdade.

Ali não há fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!

                Esse outro poema, também enquadrado como soneto italiano, possui  rimas ABBA / ABBA / CDC / DCD e versos decassílabos.
                A linha interpretativa dele é similar ao primeiro poema. Nesse sentido, deixo algumas questões em aberto:
a) O poema faz um jogo com os advérbios ali e aqui. Pensando no binômio cidade / campo, o aqui refere-se ________________ e o aqui refere-se ___________________.

b) Identifique os temas latinos explicados acima nesse poema:
b.1) Locus amoenos
b.2) Locus horrendus
b.3) Fugere urbem
b.4) Inutilia truncat
b.5) Aurea mediocritas

c) Seguindo o modelo sugerido pela tabela explicada no primeiro poema, faça o mesmo, agora completando a tabela com as diversas características da cidade e do campo a partir do vocabulário do poema

                Para fechar essa postagem, cada um de nós possui uma preferência própria em relação a lugares que nos fazem felizes ou infelizes. E é importante que saibamos reconhecer isso sob pena de violentar-nos ao viver em locais que nos entristecem.
                Em relação ao Arcadismo, o fingimento poético praticado nessa arte prega que a cidade é local negativo enquanto o campo representa o ideal de felicidade.


http://www.etimologista.com/2012/10/as-escolas-literarias-o-arcadismo.html
Fernando Fernandes

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