quarta-feira, 10 de agosto de 2011

1º ANO - ANÁLISE DE UMA CANTIGA DE AMIGO MEDIEVAL

   Gostaria de, nesse espaço, porpor uma nova dinâmica para o contexto das cantigas de amigo.
   Quantas vezes sua mãe já ficou desesperada em casa simplesmente porque você se atrasou (muito ou pouco) ao chegar em casa do colégio? Você já pensou no que provoca nela esse desespero (é claro que as pessoas reagem de formas diferentes)? É o amor dela que dispara essa insegurança, por mais que ela confie em você. Afinal, a violência está à solta. Ou então, em um relacionamento amoroso, em que o rapaz promete ligar para a moça e, por qualquer motivo, a ligação não acontece. Ela começa a se inquietar e a pensar um monte de bobagem, inclusive que ela não é amada. No outro dia, ele liga ou se encontra com ela e se justifica e ela descobre que faz papel de boba.
   Esses dois exemplos do cotidiano são bons exempos do que ocorria no enredo das cantigas de amigo. A ausência de notícias provocava uma intranquilidade, uma insegurança. Em maior ou em menor grau. E quando revelada, poderia ser como as cantigas de amigo se apresentam.
   Foi dito na última postagem que as cantigas de amigo são canções em que uma voz feminina expressa a saudade do amado, ausente por motivo relevante ou por não envio de notícias. E se desabafa com alguém ou com algo da natureza.
  Naquele período, o homem se ausentava de casa por questões profissionais, seja a guerra, seja a caça. E a demora em relação às notícias poderia gerar um sentimento de insegurança por parte de quem o espera de volta. Daí o lamento e o desejo do retorno do amado. Observe a cantiga de amigo transcrita a seguir da autoria de João Garcia de Guilhade, trovador português do século XIII.


Ai flores, ai flores do verde pino,
vocês trazem novas do meu amigo!
Ai Deus, onde está ele?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
vocês trazem novas do meu amado!
Ai Deus, onde está ele?

Se sabem novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, onde está ele?

Se sabem novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me foi prometido!
Ai Deus, onde está ele?

Você me pergunta pelo vosso amigo,
e eu bem tes digo que está são e vivo:
Ai Deus, onde está ele?

Você me pergunta pelo vosso amado,
e eu bem te digo que ele está vivo e são:
Ai Deus, onde está ele?

E eu bem te digo que ele está vivo e são:
e estará contigo no prazo combinado:
Ai Deus, onde está ele?

E eu bem te digo que está vivo e são
e estará contigo no prazo acertado:
Ai Deus, onde está ele?

   A cantiga tem início com a apresentação do cenário ligado à natureza e o próprio eu-lírico feminino se dirige às flores do verde pinho ara saber notícias do amado. A expressão que repete ao longo da cantiga representada pelo último verso de cada estrofe revela a saudade dela pelo amado. Há um prazo estabelecido para um reencontro. Contudo, a insegurança da voz feminina faz com que ela se desabafe. O interlocutor (as flores do verde pinho) a tranquiliza, lembrando a ela que nada de mais aconteceu e que no momento estabelecido o reencontro acontecerá.

   Percebeu como as três situações são semelhantes? A arte, de alguma forma, espelha o social. E se aquele contexto veio a ser retratado pela literatura é porque era relevante para aquele povo.

Fernando Fernandes

5 comentários:

  1. Oie, brigado vc nem ajudou muitooo :)

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  2. Estou fazendo um trabalho de português, a professora que análise de uma cantiga de amigo, mais essa daqui eu já tenho não posso colocar no trabalho pfv me ajudar e pra hoje o trabalho ;

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  3. O que a ausência do amigo causa no eu lirico feminino? O que a moça deseja

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  4. Como a cantiga afirma, a voz feminina se sente insegura, mesmo sendo consolada pela sua interlocutora. No período medieval, os homens se ausentavam por conta da guerra ou pela caça. E a falta de notícias aliada à passagem do tempo potencializam a insegurança feminina.

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