quarta-feira, 10 de agosto de 2011

1ºs anos-todos - O Nome da Rosa: texto e questões para reflexão

   É importante deixar bem claro que não queremos questionar sua fé ou sua religião. Os fatos que iremos discutir nas próximas aulas são históricos, comprovadamente ocorreram e são importantes para que possamos entender a importância e a riqueza da produção literária. Fomos colonizados pelos europeus. Nossas primeiras manifestações artísticas estiveram totalmente ligadas às tradições europeias, por isso a necessidade de entender como se formou a cultura e a visão de mundo da Europa.
   Já fizemos uma visita às principais características da Antiguidade Clássica e discutimos como os gregos E romanos da Antiguidade Clássica foram importantes para a construção de um pensamento antropocêntrico. A cultura grega é a base de todo o conhecimento que possuímos hoje: da política, da matemática, do direito, da medicina, da astronomia. Contudo, mudanças históricas importantes ocorreram na Europa. O Império Grego entrou em declínio a partir da morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C. Com o passar do tempo, Roma começa a se impor como império por volta dos anos 30 a.C. Basta lembrar que a região em que Jesus Cristo viveu já era província do Império Romano, além de ter seu poder estendido por toda a Europa, Ásia, Norte da África e Oriente Médio. A região que corresponde a Portugal foi colonizada pelos romanos a partir do século III a.C.Mesmo na condição de império, os romanos assimilaram muitos costumes, muitas descobertas realizadas pelos gregos, inclusive na questão religiosa. Assim como os gregos, os romanos eram politeístas e tinham um conjunto de deuses mitológicos.
   Por volta do ano 330 d.C, o Império Romano entra em total decadência moral, por isso, o imperador Constantino decide oficializar uma religião que até então era proibida: o cristianismo. Neste momento, o Império Romano se torna monoteísta e seus deuses pagãos são banidos. Constantino retira os cristãos das catacumbas e cria a Igreja Apostólica Romana. Com o passar dos séculos, a Europa caminha para um período chamado Idade Média e todo o conjunto de conhecimento elaborado pelos gregos na Antiguidade Clássica são considerados pecaminosos e proibidos. Aqueles que se aventurassem a defendê-los era considerado herege e punido com a morte. Neste momento da História, sai de cena a visão antropocêntrica e entra em destaque a visão teocêntrica.
   O filme que iremos assistir conta uma história ocorrida no século XIV, no final da Idade Média nos seguindo um modelo de investigação policial, muito parecido com a série de TV CSI. Pois é, no filme acontece uma investigação sobre várias mortes mal explicadas dentro de um mosteiro. Um monge entra em cena e, sem querer, se vê envolvido nas investigações dessas mortes misteriosas. Tudo bem. Hoje, a concepção de ciência aceita por todos, nos permite um olhar racional sobre as investigações relacionadas a crimes. Mas, como você acha que seria uma investigação criminal feita durante a Idade Média. Será que o pensamento crítico, lógico, racional teria vez em um momento em que a Europa estava mergulhada em dogmas religiosos, em princípios voltados para ideias de paraíso, inferno e purgatório? Atenção, não pense que o filme nos mostrará apenas uma investigação criminal. Ele nos convida a refletir sobre situações históricas, sociais de um momento humano, ocorridas há 700 anos, mas que ainda estão presentes em nossos dias.
   Por isso, reafirmamos o que dissemos no início. Nossa intenção não é desmerecer a fé de ninguém. Mas é entender como um sistema político (seja lá qual for) interfere positivamente ou não no cotidiano da sociedade.
   E aí? Vamos assistir ao filme?

QUESTÕES PARA REFLEXÃO – responder no seu caderno a partir das reflexões no auditório.

A) A partir do filme “O Nome da Rosa, como crença (dogma) e ciência são apresentados? Quem age em função das crenças? E em função da ciência?

B) Em Sociologia, estudamos que a coerção social é a forma pela qual a sociedade inculca os valores do grupo na mente de seus membros para evitar a adoção de comportamento divergente. É um tipo de controle social, ou seja, uma coação exercida sobre indivíduos ou grupos para que eles mudem suas atitudes ou ideias, sempre de acordo com quem detém o poder. Nas aulas de Artes, vimos também que o objetivo da comédia, além do entretenimento (riso), era a tendência a criar situações absurdas e, dentro destas, elaborar uma crítica essencialmente política aos governantes e aos costumes da época. Considerando que na Idade Média o riso era condenado e que o filme que acabamos de assistir possui como tempo da narrativa o período medieval:

   - O que a Igreja mais temia: a ira divina ou a democratização do conhecimento?

   - E que instrumento a Igreja Católica da época medieval usava para exercer a coerção social?

   - Por que o riso era tão perigoso neste contexto? Descreva uma cena do filme em que fica clara a proibição do riso no contexto da Idade Média.

C) A partir da realidade social apresentada no filme, de que forma a mulher era descrita?

D) Em relação às discussões religiosas presentes no enredo, por que era importante definir se Cristo era ou não dono de sua roupa?

E) Qual era a função dos monges que moravam no monastério apresentado no filme? Por que eles morriam?

F) Uma das obras que melhor traduziram para um público amplo a importância de Aristóteles (aristotelismo) para o pensamento cristão da Idade Média foi O nome da rosa(1986), do filósofo e escritor italiano Umberto Eco (1932). Ao final do filme percebe-se a importância da obra um tratado do filósofo grego Aristóteles (384 a.C. / 322 a.C.) sobre como o riso pode auxiliar na busca da verdade. Faça um breve comentário sobre a função da Arte no período medieval comparando essa mesma função aos dias atuais.

    Uma palavra final a vocês.

   A equipe de Sociologia e Língua Portuguesa tem a convicção de que seu tempo empregado na vinda ao colégio fora de horário habitual de aulas foi útil,  pois o filme que assistimos vai além de um momento de lazer.
   Temos por certo de que muitas vendas foram tiradas de nossos olhos. Por exemplo, a censura ao conhecimento que ocorria no período medieval ainda ocorre hoje; a exploração da fé é algo que podemos presenciar cotidianamente; o debate sobre assuntos não prioritários em detrimento do que realmente faz diferença na qualidade de vida da população, infelizmente, ainda é real.
   Há outras vendas. Cabe a cada de um de nós descobri-las e removê-las.
   Um abraço dos(as) professores(as) Léia, Cárlinton, Rogério Póvoa e Fernando Fernandes

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